sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

The One That You Love (Review)

 Por Rodrigo Gaspar (Air Supply Brazilian Fan Club)
 
Quando o lançamento de "The One That You Love" (1981) aconteceu, Air Supply já era um nome conhecido no cenário musical, com 4 hits no álbum de estreia. Imagino assim que os recursos financeiros para criação e produção do segundo disco foram menos restritivos. Olhando a foto do grupo no encarte, percebemos o aumento: dois novos membros oficiais, o guitarrista Rex Goh e o tecladista Frank-Esler Smith. Ambos já haviam trabalhado com a banda nos anos 70. E é Frank Esler-Smith o responsável pela grande mudança no som que percebemos neste álbum.
Se "Lost in Love" era marcado pelas guitarras acústicas e simplicidade de arranjos, "The One..." traz uma grande participação dos teclados, e arranjos mais sofisticados. Graham e Frank trabalhavam juntos nesse aspecto. O resultado foi o disco mais bem sucedido comercialmente na história da banda, além de 3 Top 5 singles. Sem contar que é o meu favorito. Vamos às faixas: 

1) DON'T TURN ME AWAY

Desconfiei desse álbum quando ouvi a primeira faixa. Ela sempre me irritou um pouco. Mas com o passar do tempo, aprendi a ouvir. Ela tem um tom um pouco mais rápido, pra dar o clima de começo, do que vem por aí. Foi muito popular nos shows ao vivo do começo dos anos 80. A parte mais legal é sem dúvida quando eles brincam com as duas vozes, já quase no final. Mas ainda acho a mais fraca do disco. 

2) HERE I AM

A única coisa que impede Here I Am de ser uma canção perfeita é que ela é "encomendada", e não escrita por Graham Russell. Tenho certeza que Graham gostaria de ter sido o responsável. A presença do piano como base da balada, que marca todo o álbum, é muito bem exemplificada na introdução desse single, talvez a mais bonita da carreira do duo. A letra romântica e os vocais "quentes" de Russell na primeira parte são o que há de melhor na canção. Mas o encerramento também é demais, testando a voz de Russell. Nos shows ao vivo, aliás, a música fica ainda melhor, porque a versão alongada sempre tem um agudo em nota alta que arranca aplausos de todos. Top 5 na parada. 

3) KEEPING THE LOVE ALIVE

Uma das minhas favoritas, passou desapercebida, não fez parte das turnês e continua uma joia escondida. O refrão é bem marcante, especialmente o "Can't Stop!". Esta também não foie scrita por Russell, mas ele participa mesclando os vocais com Russell numa combinação muito bem arranjada. Acho o solo de guitarra levando ao refrão final também bem legal - deve ter sido feito pelo Rex Goh. 

4) THE ONE THAT YOU LOVE

Amor e ódio. Durante anos foi uma das minhas preferidas, mas hoje simplesmente não consigo mais escutar sem um pouco de tédio...Acho que me irritei com o pianinho da introsução, e com as repetições do refrão. De qualquer forma, essa á a canção de maior sucesso na história da banda, e a canção mais executada em todo o planeta durante junho de 1981 - o que não é pouca coisa. A parte que continuo gostando é: "The night has gone, a part of yesterday...", a única participação de Graham (além de ter escrito a música, claro).
5) THIS HEART BELONGS TO ME
"Alright!", como diz o Russell...essa é interessante. Começa tranquila, com alguns refrões e pontes que estão entre os meus favoritos, mas na sequência final toma um ritmo mais acelerado, mais na linha "Just Another Woman", ou let's rock and roll. Não é por acaso que os shows da turnê terminavam sempre com This Heart..., uma forma de deixar o palco com toda energia, e com todos os músicos da banda botando pra quebrar. Eu ainda acho que teria sido uma das melhores canções se tivesse ficado na toada do começo, mas gosto de escutá-la em estúdio ou ao vivo. 

6) SWEET DREAMS

Não simpatizei com Sweet Dreams no começo...porque não era a típica balada Air Supply. Com o tempo, fui gostando cada vez mais e hoje é uma das minhas preferidas. A introdução é espetacular, dá um clima meio..."cósmico", ou místico. E depois a sequência de vocais da dupla é perfeita. Acho o refrão um pouco simples e repetitivo, mas funciona super bem. Ao vivo, é a canção que mais dá chance de improvisar, mudar, desafiar os músicos. E pra mim, um dos grandes momentos de Russell quando ele diz "only that I'm so glad I fell in love with you...". Destaque também para a nota alta no "alooooooooone". Mais um Top 5 da parada, o que sinceramente me surpreendeu, pela natureza da música. 

7) I WANT TO GIVE IT ALL

Essa espetacular canção se encaixaria muito bem no álbum Lost in Love, por sua estrutura simples e sincera. Aliás, acho que ela foi composta na fase pré-sucesso da banda, pelo que Graham sempre diz nas turnês. E acabou sendo gravada só em 1981. Ele sempre diz também que é uma das favoritas da banda. Disse isso pra mim quando perguntei qual canção era mais marcante, nos camarins (idos de 1994). Difícil achar um exemplo de melhor combinação de duas vozes com tons e estilos diferentes. Difícil não se arrepiar, com algo assim tão...simples. 

8) I'LL NEVER GET ENOUGH OF YOU

Talvez seja a minha favorita, embora o Lado B completo do álbum seja o que eu mais amo de Air Supply. Mais piano marcando o ritmo delicado, e o crescendo do refrão, cuja repetição (proposital?) de "never get enough!" combina perfeitamente com o título da canção, com querer mais do mesmo. Seja lá quem for que escolhia as músicas não escritas por Graham, fazia um trabalho primoroso. Gosto da "ponte", em especial de como Russell despeja o "well at least I had last night!" com uma certa...raiva, um tom de desafio. A versão ao vivo ficou ainda mais encantadora. I'll never get enough of this one.


9) TONITE

Se Graham não escreveu a anterior, ele compensou na magia em Tonite. A começar da grafia alternativa ao mais tradicional "tonight", que já dá um charme à parte. Um começo emocionante, que mexe com promessa e confiança em relação aos sentimentos do outro. Gosto do refrão, mas acho os versos ainda mais interessantes. Revelam uma intimidade romântica que classifico como ingênua, no sentido positivo. O toque especial do final vem com o´órgão que imita as palavras "I need you now". Isso era um must em 1981, aqui no Brasil até tema de novela usava o "órgão falante" (Nosso Louco Amor). É brega, sem dúvida, e delicioso também. 

10) I'VE GOT YOUR LOVE

O único defeito dessa canção é que não vem mais nada depois. Um dos melhores vocais de Graham no começo. O sentido da letra de que o amor foi adquirido quase que sem querer, por fatalidade...e todas as passagens em que Russell entra dão um novo clima, de seriedade...especialmente com a promessa "você nunca mais dirá que não vai se apaixonar". Russell também está soberbo, especialmente em "and it's a perfect reason for understanding life some more". 

Enfim, a combinação de vocais dessas 5 músicas do lado B são espetaculares, mantendo a simplicidade, mas com arranjos mais bonitos que os de Lost in Love. O dedo de Frank Esler-Smith é flagrante. Estar presente na turnê de 1981 deve ter sido muito especial (a única canção não executada ao vivo foi a # 3). Se a faixa título literalmente cansou os meus ouvidos, ouço o restante do álbum como se fosse algo fresco e novo a cada redescoberta. Todo artista tem um pico impossível de ser reconquistado, e o Air Supply de 1981 é um exemplo perfeito. 


(Fev 04, 2011)

Lost In Love (Review)



Por Rogrigo Gaspar (Air Supply Brazilian Fan Club)


"Lost in Love" (1980) não é o primeiro álbum do Air Supply, mas é o que colocou a banda no mapa. Foi o primeiro lançado nos EUA, depois da fase australiana, e colocou 4 singles muito bem posicionados. Vamos a uma análise faixa-a-faixa desse marco histórico, que alcançou o #3 na parada de albuns da Billboard: 

1) LOST IN LOVE

A faixa-título estava fadada ao sucesso. Herança da fase australiana, Lost in Love encantou o chefe da Arista Records, Clive Davis, que ofereceu um contrato à banda. O som simples e com vocais harmônicos da versão original permaneceu. Clive Davis eliminou um solo, encurtou a canção para caber nas programações das rádios. E deu mais que certo. Até hoje é a música "marca registrada" do Air Supply, com um refrão que vai crescendo até Russell Hitchcock demonstrar seu range vocal na parte final. 

2) ALL OUT OF LOVE

Segunda faixa, segundo single. Dessa vez, o vocal harmônico de Graham e Russell foi substituído por um dueto que destaca o contraste na voz dos dois. Assim como Lost in Love, o refrão começa despretensioso, tranquilo...mas no final ganha corpo e novamente evidencia a potência vocal de Russell Hitchcock, numa das notas mais altas já gravadas pelo Air Supply. All Out Love repetiu o sucesso da faixa-título do álbum e chegou ao Top 5 da parada americana. 

3) EVERY WOMAN IN THE WORLD

Air Supply não estava para brincadeira no lado A deste disco. Terceira faixa, terceiro Top 5 na parada Billboard. Dessa vez, uma mudança de estilo. A canção é menos produzida, tem um tom mais cru, que beira até as baladas folk-country em que o violão é quase que toda a base do acompanhamento instrumental. A letra exaltando a monogamia, ao contrário do que o título poderia indicar, não teve a participação de Graham Russell. A complementação de dois estilos vocais diferentes continua sendo a chave para esse sucesso. 

4) JUST ANOTHER WOMAN

Se alguém ouviu as 3 primeiras faixas, dificilmente imaginaria o que veio a seguir: "yes, Air Supply can rock'n'roll!". Base forte de baixo e bateria e um tom bem mais agressivo na primeira canção com a voz apenas de Russell Hitchcock. Esta é a segunda e última herança dos tempos australianos, já que Just... já havia sido lançada em roupagem muito parecida nos anos 70. Se não virou sucesso, foi uma oportunidade da banda mostrar seu potencial nos shows ao vivo, já que esta música esteve presente nas duas primeiras turnês.

5) HAVING YOU NEAR ME

Voltando à realidade...e às baladas. Essa talvez seja a mais açucarada do álbum, melodia novamente simples e nova oportunidade para o range vocal de Hitchcock aparecer em destaque. Uma referência interessante ao nome do àlbum e à faixa título está presente na letra, de forma interessante: "you're brave to say that you got lost in love...". Seria a auto-influência? 

6) AMERICAN HEARTS

Pra mim de longe a mais interessante faixa do álbum, ainda que não a melhor. A letra é bem criativa e foge do padrão Graham Russell de escrever (ele não participou). Narra de forma até casual a paixão e as dificuldades da vida a dois na sociedade americana. Como aquele amor idealizado das outras canções pode se tornar uma dor de cabeça para ser mantido, e às vezes acaba naufragando. Os versos vão fluindo na alternância de vozes e o refrão, apesar de simples, gruda na cabeça de queme stá ouvindo. Uma pena que nunca mais a banda tenha navegado por essas águas. 

7) CHANCES

O single final do album, que fez sucesso mais moderado, é talvez a melodia de construção mais elaborada entre os hits de 1980. Russell Hitchcock leva a balada sozinho, e sua voz é testada em vários momentos de notas altas. A letra é uma reflexão sobre possibilidades, chances, ansiedade, angústia no amor. Chances é uma pequena joia, que fica um pouco esquecida em um álbum com outros sucessos maiores. Mas é uma amostra do que viria no álbum a seguir, a evolução melódica e instrumental de 1981. 

8) OLD HABITS DIE HARD

Se Just Another Woman é tão rock'n'roll quanto Air Supply pode ser, Old Habits é a versão country desse flerte com outros gêneros. Melodia uptempo, letra convencional, vocais entregues sem muito esforço. Foi composta pelo baixista e pelo baterista de então. Considero a menos interessante do álbum, mas ao mesmo tempo sinto que a dupla estava se divertindo ao cantar sobre a dificuldade de romper com velhas tradições e costumes. 

9) I CAN'T GET EXCITED

Novamente um tom um pouco mais pesado do que o normal, ainda que sem o "punch" de Just Another Woman. A função de Excited, que parece um pouco perdida no lado B do album, era mais para shows ao vivo. Durante um bom tempo Air Supply abriu seus shows com essa canção uptempo, conquistando assim a energia da plateia para depois desfilar suas baladas de maior sucesso. Sozinha, a canção poderia ter sido mais eficiente com duração um pouco mais curta. 

10) MY BEST FRIEND

Quase todo album do Air Supply tem uma canção intimista, onde os instrumentos são quase acessórios. Os vocais são simples e melódicos, relembrando o começo de carreira (de vacas magras) na Austrália. Dessa vez, a canção intimista, muito bem escrita por Graham, é cantada apenas por Russell, num dos vocais mais emocionantes do álbum. Não virou um sucesso, mas sim uma favorita dos fãs, tanto que voltou a fazer parte dos shows ao vivo anos depois. 

Analisando "Lost in Love" em perspectiva ao que ocorreu nos anos seguintes, o que se nota é que o álbum é "cru". O tecladista Frank-Esler Smith e o guitarrista Rex Goh estavam temporariamente fora da banda, que havia se mudado para os EUA. Não aparecem listados como "Air Supply", nem na capa do disco. Sobrou baixo, bateria e uma guitarra bem de suporte de David Moyse. Assim, as vozes da dupla e o violão acústico de Graham dominam a cena. Simplicidade é a palavra de ordem. Não dá pra imaginar um arranjo elaborado como o de Sweet Dreams, ou a base de piano de The One That You Love, que viriam no ano seguinte. O primeiro impacto de Air Supply nas paradas seria marcado pelo que garantiu a existência da banda por várias décadas: a combinação de duas vozes. 


(Fev 4, 2011)